Palestrante – Jennifer Fewell – Universidade do Arizona (EUA)
Data: 28 de setembro
Resumo da apresentação
Maurice Maeterlinck foi um dramaturgo, poeta e ensaísta belga de língua francesa, e principal expoente do teatro simbolista, que viveu entre 1862 e 1949. Ele filosofou muito sobre os mistérios das sociedades de abelhas. Como é que elas exibem tal comportamento complexo sem nenhum organizador central? Ele propôs um “espírito da colmeia”, uma coisa mística, que precisava ser encontrada e identificada.
Os resultados das pesquisas ao longo dos últimos 30 anos, do grupo da Universidade do Arizona, lideradas pelos Drs. Robert E. Page Jr e Jennifer Fewell, tentam demonstrar o espírito da colmeia, mostrar o que é, onde ele “reside” e como evolui. Usando reprodução seletiva artificial como um análogo da seleção natural, o estudo apresentou os resultados de mais de 30 gerações, com reprodução seletiva para uma única característica da divisão de trabalho social.
A quantidade de excedentes de pólen armazenado no ninho (acumulação de pólen) revelou uma arquitetura fenotípica de traços correlacionados em vários níveis de organização biológica em abelhas operárias, que são fêmeas estéreis. O mapeamento genético demonstrou que a arquitetura fenotípica que observamos é uma consequência de uma arquitetura genética rica em pleiotropia e epistasia.
A pleiotropia é o nome dado aos múltiplos efeitos de um gene. Acontece quando um único gene controla diversas características do fenótipo que muitas vezes não estão relacionadas. É um caso de herança autossômica, ou seja, os genes que vão ser passados para os descendentes se encontram nos cromossomos autossômicos. Já a epistasia ocorre quando os alelos de um gene inibem a ação dos alelos de um outro par, que pode ou não estar no mesmo cromossomo.
Estudos de silenciamento de genes e transplante de ovários forneceram uma forte evidência para a hipótese de que a divisão do trabalho e a alimentação especializada são derivados do ciclo reprodutivo dos insetos, e sob o controle dos ovários, no caso de insetos solitários. Seguindo esta linha de raciocínio, foi observado que o desenvolvimento do ovário das abelhas operárias está sob o controle de um genoma social, o que resulta no controle do desenvolvimento das larvas.
Tais mudanças no desenvolvimento dos ovários das larvas de operárias redundam em alterações nas interações complexas entre adultos, resultando em mudanças fundamentais na estrutura social. Seria este o tal espírito da colmeia, aventado por Maeterlink?
Por Décio Gazzoni – Embrapa Soja