Entrevista – Pesquisador da Embrapa coordena, nesta sexta-feira, simpósio sobre polinização e agricultura

by Debora Bartcus | 30 de setembro de 2016 00:14

decio-gazzoni

Crédito: Lebna Landgraf

O pesquisador da Embrapa Soja, Décio Gazzoni,  coordena nesta sexta-feira, dia 30, o Simpósio “Interações entre serviços de polinização e práticas agrícolas”, que vai contar com as apresentações de importantes cientistas internacionais.

Em entrevista para a A.B.E.L.H.A., o pesquisador falou sobre o evento científico e sobre a importância de levar o tema dos polinizadores para o Congresso Internacional de Entomologia.

 A.B.E.L.H.A. – Qual a relevância dos polinizadores para a agricultura?

Décio Gazzoni – Os polinizadores prestam um serviço ecossistêmico chave por polinizar não apenas as culturas agrícolas como também plantas silvestres. Estima-se que 35% da produção agrícola global, bem como 85% das plantas selvagens dependem, em algum grau, da polinização.

As abelhas são responsáveis pela polinização de plantas e são amplamente reconhecidas como as mais importantes para essa função em escala global. Mais de vinte mil espécies de abelhas – pertencentes a várias famílias da ordem Hymenoptera – já foram descritas, e um número indefinido ainda são desconhecidos. Só no Brasil já foram identificadas quase três mil espécies de abelhas, e oitenta por cento delas são encontrados na Floresta Amazônica.

A.B.E.L.H.A. – Por que é tão importante debater cientificamente o declínio das populações de abelhas?

Décio Gazzoni – Apesar da sua importância para o bem-estar humano, a biodiversidade em uma escala mais ampla, e os serviços ecossistêmicos naturais – como a polinização –, em uma análise mais restrita, são prejudicados por atividades antrópicas. Uma avaliação realizada pelo World Resource Institute em 2005 estimou que sessenta por cento dos serviços dos ecossistemas estão sendo degradados, ou não sendo regenerados com rapidez suficiente para atender a demanda.

Não é de admirar o nível muito elevado de preocupação com o declínio da população de abelhas, em escala global e, consequentemente, com a eficácia dos serviços de polinização natural, o que pode representar uma ameaça significativa para a o bem-estar da Humanidade. De qualquer forma, é sempre importante salientar que o número de colmeias aumentou globalmente nos últimos 50 anos, e a diminuição das colmeias se limita às ocorrências em alguns países europeus e norte-americanos.

A.B.E.L.H.A. – Quais as principais ameaças aos polinizadores?

Décio Gazzoni – A Plataforma Intergovernamental para Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), que atualmente tem cento e vinte e quatro países membros, foi criada há quatro anos, como um órgão independente ligado à Organização das Nações Unidas, com a missão de avaliar o estado da biodiversidade do planeta, seus ecossistemas e os serviços essenciais que prestam à sociedade.

borboletas-2-redDe acordo com a IPBES, um número crescente de espécies de polinizadores em todo o mundo está sob ameaça de extinção, em decorrência de diversas pressões adversas, muitas delas com origem em atividades humanas, ameaçando meios de subsistência e centenas de bilhões de dólares da produção agrícola.

Em um artigo recente, Brown e colaboradores resumiram um conjunto de fatores que conduzem a esta diminuição da população, incluindo:

1 – A perda de habitat e a simplificação dos ecossistemas, reduzindo a oferta de abrigo e a quantidade, qualidade, frequência e diversidade de recursos alimentares necessários para os polinizadores;

2 – A introdução de espécies invasoras no ambiente, prejudicando o equilíbrio entre plantas e polinizadores;

3 – O surgimento e a disseminação de pragas novas ou tradicionais, que afetam tanto as abelhas nativas quanto as domésticas;

4 – Impacto negativo da aplicação de pesticidas sobre polinizadores, incluindo os efeitos adversos agudos e sub-letais;

5 – As mudanças climáticas globais, tornando alguns ambientes inadequados ou menos adequado para polinizadores.

A.B.E.L.H.A. – Existem iniciativas globais para enfrentar tais desafios?

Governos, Academia, ONGs, organizações internacionais e outras partes interessadas não apenas têm discutido o declínio dos polinizadores e as causas associadas como também têm políticas proativas, tecnologias e atitudes, com o objetivo de reverter a tendência dos últimos anos. A agricultura tem sido particularmente visada, com o objetivo de desenvolver sistemas de produção mais favoráveis aos polinizadores. As recomendações são baseadas na adoção de boas práticas agrícolas, sempre visando uma agricultura sustentável, que aproveitar os serviços naturais.

macieira-2-redSegundo a FAO, ao longo das próximas três décadas, haverá um incremento de 70% na produção agrícola, com o potencial de reduzir os habitats para os polinizadores e de impactá-los negativamente, por mau uso de práticas agrícolas. Dessa forma, entendemos que é fundamental implantar políticas, tecnologias e atitudes para frear a tendência recente de comprometimento do serviço ambiental de polinização, e iniciar uma recuperação da população de polinizadores e do nível dos serviços de polinização naturais, a fim de apoiar o aumento estimado da demanda por alimentos e outros produtos da agricultura.

A.B.E.L.H.A. – Existem dados que demonstrem mais claramente a interação entre os polinizadores e a agricultura?

Décio Gazzoni – O próprio IPBES menciona algumas estatísticas importantes para ilustrar a interface entre os serviços de polinização e a agricultura:

Serviço

O evento tem o apoio da A.B.E.L.H.A. para sua realização e está programado para 14h30 (horário de Brasília).

Sala W414 B (Centro de Convenções – Convention Center)

 

Simpósio Interações entre serviços de polinização e práticas agrícolas

Interactions Between Pollination Services and Agricultural Practices

 

Moderador e organizador / Moderator and organizer: Décio Gazzoni – Embrapa- Brasil

 

An overview of the pollination services – Décio Gazzoni – Embrapa (Brazil)

Economic importance of the pollination services – Nicola Gallai – University of Toulouse (France)

The importance of pollinator diversity for crop production – Mike Garratt – University of Reading (UK)

Impact of habitat reduction and simplification on pollination services – Stephen D. Wratten – Lincoln University (New Zealand)

Threats to polinators from parasites and pathogens – Qiang Huang – ARS – USDA (US)

The impact of the global climate changes and the pollination – Blandina Viana, on behalf of Vera Lúcia Fonseca – University of São Paulo (Brazil)

Impacts of introduced pollinators on agriculture – Marcelo Aizen – Universidad Nacional del Comahue and INIBIOMA-CONICET (Argentina)

Honey bee colony losses and declines – Nathalie Steinhauer – University of Maryland (US)

Nutrition, transportation and other stressors on bees providing commercial pollination services – Ramesh Sagili – Oregon State University (US)

Crop management friendly to pollinators – Barbara Herren – Food and Agriculture Organization of the UN (Kenya)

Acute impact of insecticides to pollinators – Jens Pistorius – Julius Kûhn Institute – Federal Research Centre for Cultivated Plants (Germany)

Sub lethal impact of insecticides to pollinators – Tjeerd Blacquière – Plant Research International (Netherlands)

A close look into the future of global agriculture – an eye on pollination services – Manfred Kern – agriExcellence GmbH (Germany)

 

 

Source URL: https://ice2016.abelha.org.br/entrevista-pesquisador-da-embrapa-coordena-nesta-sexta-feira-workshop-sobre-polinizacao-e-agricultura/